Sun Ra and his Solar Arkestra – On Jupiter (1979, El Saturn Records, USA / Re. 2009, Kindred Spirits, EU)This is one of the Jazz legends that over time I learned to discover, to the point of now being part of a limited list of my excellence artists.
Unlike other performers of the era, Sun Ra does not allow us a love at first sight, even if there is some initial attraction. Instead, we have to gradually get involved with his strong musical personality. But nothing is guaranteed in this relationship dangerously intense, that can surprise us around every corner with one of his traps that constitute the complexity of his compositions.
Despite his brilliant skills, Sun Ra was one of the most controversial musicians of the jazz history. His playing style, combined with the theatrical component of their performances with costumes situated between the Egyptian mythology and science fiction, was not seriously taken by the more conservative faction of the Jazz community. But while some ridiculed him, others formed a legion of admirers who continue to venerate him to the present day.
Herman Poole Blount that early on has refuted his birth name, started to use names like Le Sonra or Sonny Lee, but finally adopted the alter ego Sun Ra, with whom he signed most of the works that took him to success. Besides his musical vocations as a composer, pianist and leader, Poole Blount also devoted himself to poetry and philosophy (cosmic) that explored in his live performances with the eccentricity that characterized him over several decades. Endowed of a complex personality, perpetuated through poetry, Sun Ra developed several theories that made him a pioneer in afrofuturism and a tireless preacher of “consciousness” and peace.
There are several works by Sun Ra that are equally important for me but as I had to choose only one to address this article, I ended up surrendered to the magic of “On Jupiter”.
It is indeed a great album, in which numerous rhythmic variations interact seamlessly with several instruments, but also with the electric voice of June Tyson, making our imagination to travel to distant places where the science fiction reigns.
The disco-funk influences of this work are partly ensured by the genius of “UFO” whose fame eventually devalue (unfairly) the other songs in this work. In addition to the excellent work of guest bassist Steve Clarke and the magnificent performances of saxophone, trumpet and guitar, it also includes vocals in the format of spoken interventions (expendable to some, essential for others) like “UFO take you … there …” or “…Watch Out everybody for the UFO…”.
“UFO” is a fantastic experimental Jam session that includes a varied palette of colors that run on a markedly funky structure. Those less familiar with this style, certainly find some nonsense and misplaced interventions; however, this is the world of Sun Ra!
The cosmic grandeur of this work is also ensured by the syncopated and dragged rythm of “On Jupiter” (that opens the record) but also by its vocalization, worthy of a horror movie. The baffling piano from the leader of this vast collective, gives a mark of great exclusivity to the creations of Sun Ra music.
On a different tone, the third and final track - “Seductive Fantasy” - presents us with a slow cadence but no less disconcerting, complemented by a veritable parade of instruments ranging from the bassoon (James Jacson), to the saxophone (John Gilmore), oboe (Marshall Allen), the electric guitars (Skeeter McFarland and Taylor Richardson) and the violin and the cello, of unknown interpretation. Are also part of this collective extensive, names like Samurai Celestial (drums), Eloe Omoe (bass clarinet) or Atakatune (percussion), among others.
The fact that Ra’s music was not properly documented, is something that had become common throughout his work. The lack of recording dates or the inaccuracies in the lists of participating musicians are situations that denotes some exclusivity in the universe of Sun Ra but it also causes some to not take him seriously.
Sun Ra marked the history of Jazz as one of the most controversial and eccentric artists. His passion for history, made him to pay special attention to ancient Egypt, without stop looking to the future through science fiction, present in most of his albums.
Although there are some work of weaker quality (especially some posthumous editions of alleged unpublished material) its vast legacy deserves to be discovered. The only inconvenient of embarking on a journey like this is certainly the risk of not coming back.
Mister W
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(Portuguese version)
Esta é uma das lendas do Jazz que ao longo dos tempos fui aprendendo a descobrir e que actualmente integra o grupo limitado das minhas principais preferências.
Contrariamente a outros intérpretes da época, o Sun Ra não nos possibilita um amor à primeira vista, mesmo que exista alguma atracção inicial. Temos que ir ao seu encontro de forma a nos envolvermos gradualmente com a sua forte personalidade musical. Mas nada é garantido nesta relação perigosamente intensa, que nos pode surpreender ao virar de cada esquina, com uma das suas armadilhas que constituem a complexidade das suas composições.
Para além do seu brilhantismo, Sun Ra foi um dos musicos mais controversos da história do Jazz. A sua forma de tocar, aliada à componente teatral dos seus espectáculos, com trajes situados entre a mitologia Egipcia e a ficção cientifíca, não era levada a sério pela facção mais conservadora do Jazz. Mas enquanto uns o ridicularizavam, outros formavam uma legião de admiradores que o veneravam até aos dias de hoje.
Herman Poole Blount que desde cedo refutou o seu nome de nascimento, utilizou nomes como “Le Sonra” ou “Sonny Lee”, mas adoptou por fim o alter ego Sun Ra, com o qual assinou a maioria dos trabalhos que o viriam a celebrizar. Para além da vertente músical, protagonizada como compositor, pianista e leader, Poole Blount dedicou-se igualmente à poesia e à filosofia (cósmica) que explorava nas suas actuações ao vivo com a excentricidade que o caracterizou ao longo de várias décadas. Dotado de uma personalidade complexa, perpetuada através da poesia liríca, Sun Ra desenvolveu várias teorias que o tornaram um pioneiro no afrofuturismo e um pregador incansável da “consciência” e da paz.
São várias as obras do “Deus do Sol” de que há muito não abdico, mas como tive que eleger apenas uma para abordar nesta crónica, acabei por me entregar à magia de “On Jupiter”.
Trata-se efectivamente de um grande àlbum, em que as inúmeras variações rítmicas interagem com vários instrumentos, mas também com a voz electrizada de June Tyson, remetendo a nossa imaginação para espaços distantes, onde a ficção científica impera.
A sonoridade disco-funk deste trabalho, é em parte assegurada pela genialidade do tema “UFO” cujo sucesso acabou por desvalorizar (injustamente) as demais faixas desta trabalho. Para além do excelente trabalho do baixista convidado Steve Clarke e das magníficas prestações de saxofone, trompete e guitarra, sobressaem as intervenções vocais faladas (dispensáveis para alguns, essenciais para outros) que se resumem à repetição de pregões como “UFO…take you there…” ou “…Watch Out everybody for the UFO…”.
“UFO” é uma fantástica Jam session experimental que inclui uma palete variada de cores que deslizam sobre uma estrutura marcadamente funky. Os menos familiarizados com este estilo, poderão encontrar intervenções algo despropositadas, contudo, esse é o mundo Sun Ra!
A grandiosidade cósmica desta trabalho é igualmente assegurada pelo ritmo sincopado e arrastado de “On Jupiter”, mas sobretudo pela vocalização digna de um filme de terror. O piano descordenado (ou desconcertante?!) do leader deste vasto colectivo, confere uma marca de grande exclusividade às criações musicais de Sun Ra.
Num registo diferente, o terceiro e último tema – “Seductive Fantasy” – remete-nos para uma cadência lenta mas não menos desconcertante, complementada por um verdadeiro desfile de instrumentos que vão desde o bassoon (James Jacson), saxofone (John Gilmore), oboé (Marshall Allen), às guitarras eléctricas (Skeeter McFarland e Taylor Richardson) e ao violino e violoncelo de interpretação desconhecida. Integram ainda este extenso colectivo, nomes como Samarai Celestial (bateria), Eloe Omoe (clarinete baixo) ou Atakatune (percussão), entre outros.
O facto de Ra documentar a sua música de uma forma pouco regular, é algo que se foi tornando frequente ao longo da sua obra. Desde a ausência de datas de gravação até às imprecisões nas listas (por vezes longas) dos músicos participantes, estas são situações que caracterizam de forma exclusiva o universo Sun Ra, que alguns nunca levaram a sério.
Sun Ra marcou a história do Jazz como uma das figuras mais controversas e excêntricas. O seu gosto pela história fez com que conferisse uma atenção especial ao antigo Egito, sem no entanto deixar de olhar para o futuro, através da ficção científica presente numa grande parte das suas obras.
Apesar de existirem alguns trabalhos de menor qualidade (sobretudo algumas edições póstumas de alegados registos inéditos) o seu vasto legado merece ser descoberto. O único inconveniente é que depois de embarcarmos numa viagem como esta, corremos o risco de não regressarmos.
Mister W
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